Mateo Sancho Cardiel.
Redação Central, 8 mar (EFE).- Cada vez mais são os homens que, por necessidade ou vocação, assumem as tarefas domésticas e o cuidado das crianças, uma opção ainda vista com desconfiança em muitas sociedades e que evidencia os obstáculos no caminho para a igualdade de gênero.
No Dia Internacional da Mulher é preciso lembrar que, apesar de a aceitação social da incorporação das integrantes do sexo feminino no mercado de trabalho avançar cada vez mais rápido, o mesmo não ocorre com o fato de os homens assumirem naturalmente o que seria “tarefa” delas: cuidar da casa e dos filhos.
“É preciso renegociar. As mulheres assumiram as duas cargas durante anos, o trabalho e a casa com as crianças, e os homens não estão sendo corresponsáveis”, explica à Agência Efe Paco Abril, sociólogo da Associação de Homens pela Igualdade de Gênero (AHIGE), na Espanha.
Na Itália, afirmam que o homem também só saiu perdendo com esta repartição dos papéis.
“É preciso começar a explorar o caminho inverso, buscar a realização de uma maneira diferente. A importância da pessoa que sabe se autogestar”, explica à Efe Fiorenzo Bresciani, presidente da Associação de Homens Donos de Casa na Itália.
Fundada em 2003 por três homens que defendem com orgulho a paixão pelo trabalho doméstico, a associação possui agora 5.386 membros de vários países.
Nos Estados Unidos, o livro “Househusband” (“Dono de casa”, em tradução livre), de Ad Hudler, se tornou, há alguns anos, um best-seller, retratando a situação inusitada com uma pitada de humor.
Para os que alegam que as tarefas do lar “embrutecem”, na Coreia do Sul um dono de casa de 44 anos virou notícia ao ganhar o popular concurso de televisão “Quiz Korea”. São pequenos ventos de mudança.
Em 2002, o site da “CNN” publicava um artigo que começava da seguinte forma: “Para uma mulher trabalhadora, é uma fantasia chegar em casa à noite, encontrá-la limpa, com uma comida de gourmet sendo feita em fogo brando e as crianças com os deveres feitos”.
Se o contrário deu o tom durante anos, por que custa tanto imaginar a nova situação?
Os homens separados não encontram outra alternativa, a não ser que “terceirizem” alguém que os atenda, mas os que definem outras prioridades e escolhem ficar em casa ou reduzir sua jornada de trabalho têm que dar explicações além da conta.
Paco Abril, autor de um estudo para a AHIGE sobre os homens que reduziam sua jornada de trabalho para assumir totalmente ou ajudar nas tarefas do lar, somente 2% das pessoas que pedem esta redução das horas trabalhadas são do sexo masculino.
“Estudamos empresas com medidas de conciliação da vida trabalhista com a profissional, e pensavam que estas medidas só seriam solicitadas por mulheres”. Em consequência, ficavam surpresas quando alguns homens também recorriam a elas.
Abril assegura que surgem nas novas gerações homens que mudam as regras. “Avaliam o bem-estar e não levam tão em conta a ambição profissional”, e, por isso, preferem se realizar como pai e em casa do que na carreira.
As reações nem sempre são positivas: muitos têm que lidar com as perguntas de pais que creem que estão jogando o futuro fora ou se tornando “dependentes”, ou até mesmo amigos que os criticam por estarem “subordinados” à mulher ou começam a levar dúvidas sobre sua orientação sexual.
No Facebook, onde cada vez mais ficam refletidas as tendências sociais, existem comunidades como “I am a househusband, get over it” (“Sou dono de casa, supere isso”), onde reivindicam a possibilidade de trocar receitas e compartilhar conselhos domésticos.
Mas o que pensam as mulheres sobre isso?
“Em geral, elas desejam que os homens mudem”, acrescenta Abril.
“É verdade que a educação patriarcal também as afetou e algumas preferem ficar como estão, mas um estudo nos Estados Unidos demonstrou que casais que dividem igualmente as tarefas do lar eram muito mais felizes, com menos estresse, mais saúde e com filhos com maior rendimento escolar”, conclui. EFE